quinta-feira, 29 de abril de 2010

TEMPO NÃO CURA O AMOR


Tempo não cura o amor; este adormece
Entre brancos lençóis a descansar.
Ah! Criança febril que se amornece
E com as lembranças tenta se curar!

Finge dormir o amor; finge que esquece
Da face, dos cabelos e do olhar;
Do perfil e colar que resplandece
A pele clara e o seio a palpitar.

Enquanto dorme o amor, tudo se acalma;
A dor profunda que amordaça a alma,
Sob brancos lençóis já se encoberta;

Basta um beijo fugaz, basta um perfume,
Na escuridão do abismo, basta o lume,
Que na ilusão da luz, ele desperta!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

DORME COMIGO A MORTE


Dorme comigo a morte e acorda cedo,
Como se fora a amante preferida.
Faz promessa de amor, conta o segredo
De um eterno descanso em sua guarida.

E me oferta uma vida noutra vida,
Afirma revelar-me todo o enredo.
Brinca de esconde-esconde e, na corrida,
Tenta espantar a angústia, a dor e o medo.

Fique tranquila, eu digo: - Não me iluda.
Que me importam conselhos, tua ajuda?
Não tente me enganar como a um menino.

Deita comigo e embale, então, meu sono,
Estou livre e sereno em meu outono,
A última estação do meu destino.

O DESEJO


Basta de ânsias eternas, enfim, basta!
O amor é bem maior que este manejo
De perfis, a viver sob o cotejo
De imensos vagalhões que a tudo arrasta.

É mui maior o amor que este desejo,
Próprio da juventude entusiasta;
Grande é o amor, suave noite vasta,
Não a réstia de luz, breve lampejo.

Que horror é este? Ah, que pouca sorte!
Nascer, crescer, viver até a morte,
Sentir do ciúme a dor de sua vergasta.

Eu quero o amor com toda a sua nobreza,
Do grão ao astro idêntica grandeza,
Basta de ânsias eternas, enfim basta!