sábado, 14 de janeiro de 2012

MEU POBRE VERSO


Meu pobre verso, tão desimportante,
Que não aplaca a dor do desgraçado,
E não propõe um lado ou outro lado,
Nem fala de alegria fulgurante.

Meu pobre verso, quase rotulado,
Feito no dia-a-dia, itinerante.
E sem fascínio,quase dissonante,
Não retém nas suas frases o encantado.

Ergo o verso monótono sem sal,
Repleto de lembrança e de saudade,
Tentando libertá-lo do real.

Vejam, contudo é verso e passaporte
Meu pobre verso cheio de ansiedade,
Que pode transportar-me além da morte.

domingo, 1 de janeiro de 2012

QUERO BEIJAR-TE, Ó MAR


Quero beijar-te, ó mar de minha terra,
Beber espumas de saudade, tanta.
A dor que nos envolve e nos aferra,
Ó ondas cristalinas, torne-a santa.

E nada cause entrave na garganta.
Encerra, pois, as dores da alma encerra.
Com tua cor e luz cura esta guerra;
Esta ferida cura com tua manta.

Que fui na vida pássaro migrante,
Sempre estrangeiro, eternamente, errante,
O horror da fome e sede causa mágoas.

Quero esquecer as feias primaveras
E renascer feliz para outras eras,
Cura minha alma, ó mar com tuas águas.

O NÁUFRAGO


Sou náufrago perdido na borrasca
E só vejo sargaços sobre a areia.
O vento sopra forte com nevasca
A encobrir a bela lua cheia.

Não existe pro náufrago candeia;
Do barco submerso, a vela, a casca,
Denunciam que em minha triste aldeia,
Foi tudo destruído na carrasca.

Pois em que mar a bússola e as velas
Perdi. E tive apenas as estrelas,
Hoje a guiar-me nesta imensidade.

Sou náufrago de mares adversos
De sentimentos vários e dispersos,
Perdido no rigor da tempestade.

HEMODIÁLISE


Hoje faz parte do meu corpo a máquina,
A depurar o sangue em minha veia.
Faz no meu corpo inteiro uma odisseia
A remover a ureia e creatinina.

Eu, enredado, dentro de uma teia,
Para não gelar o sangue heparina.
Use-a doutor, na veia e na artéria:
Seja banhada pela cloramina.

Ó máquina que iguala o pobre e o rico,
O branco o negro o alegre e o pudico
Conformemo-nos sempre com a desdita!

Enquanto se procura um transplante,
Que sejas tu ó máquina a amante,
Enquanto a alma cala e o corpo grita!