sábado, 30 de outubro de 2010

O CIPRESTE


Sou só e calmo qual cipreste esguio,
Que se balança à noite ao som do vento.
Na borrasca da vida, eu no relento
Sofro intenso calor e o oposto frio.

E canto livre como canta o rio
A desaguar no mar, claro ou cinzento.
Sou só e cônscio, este é o meu feitio
Ao pé da estrada, em pleno esquecimento.

Ouço a canção do vento em noites claras;
O murmurar das ânsias do humano;
As promessas de amor e as juras raras.

E tudo cansa nessa diretriz.
À minha sombra, abrigo o cotidiano,
Na luta intensa para ser feliz.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

AUTA DE SOUZA


Veio de longe a voz terna e sonora,
Da mansidão sublime e dos enleios,
Da terra agreste e quente, dos anseios.
De uma extensa noite ou da aurora?

Veio de longe a bela ave canora,
Com flores perfumadas nos seus seios.
Tocando os corações com seus gorjeios,
Ainda ouço a música de outrora.

O canto triste e pleno em simbolismo,
Na fé e mansidão, catolicismo,
Com luto e dor percorre a trajetória.

Veio de longe a voz mui cristalina,
Anjo moreno em corpo de menina,
Alçando voo para entrar na história!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SONETO ANDALUZ


Eu quero as casas brancas de Casares,
Penduradas no céu, em harmonia.
Buganvílias em flor e seus colares,
Ornamentando a bela Andaluzia.

Oh! Málaga, Granada e Almeria;
Sevilha,com suas festas populares.
Oh! Cidades com brilhos estelares,
Córdoba, Jerez, Cádis. Bulerias,

Danças flamencas com seus belos passos,
Versos de Lorca, tintas e picassos,
Torre de Ouro, alhambra, chafariz.

Oh! Árabes, judeus, belos ciganos,
Unidos, libertários, soberanos,
Quero-te, Espanha, para ser feliz!

À MINHA MÃE


A minha mãe deixou-me grande herança,
A calma imensa e a fé inabalável;
O livro do viver, o formidável
Acervo de cultura e segurança.

A minha mãe deixou-me a esperança
De enfrentar o que é inevitável;
A paz de aceitar o que é mutável,
A honestidade e o amor à semelhança.

Não existe em meu peito a dor do luto,
Se no pensar, minuto a minuto,
O seu perfil me envolve e me aquece.

E mesmo que não haja eternidade,
Ela vive na minha identidade,
Nesta lembrança que transformo em prece.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

VAMOS BEBER O MAR


Vamos beber o mar, a nossa herança,
A brancura da espuma efervescente,
Dando vida ao azul em sua torrente,
A desaguar no peito esta bonança.

Vamos beber o mar, nossa esperança,
E nele navegar seguidamente;
Partir a cada aurora e, no poente,
Trazer a pesca e a nossa confiança.

Vamos agora ao mar, à nossa vida!
Tesouro e fado, Terra Prometida,
E transformá-lo em hino e estandarte.

Vamos beber o mar, nossa ventura,
Templo de água e sal, nossa cultura,
E fazer dele a nossa maior arte!