sábado, 26 de novembro de 2011

AMOR E RAZÃO


Certa ou errada, amor, eu tenho pena
Do sentimento nobre dispersado.
Deu-te, a razão, o mundo encantado
Com as cores lilases da verbena?

Chega a sofrida dor e rouba a cena.
Este querer profundo, ora arrancado,
Tem um choro sutil, resignado,
Na dimensão, tornaste a dor pequena.

Que sede de razão te determina,
A ponto de mudar a nossa sina
E transformar a vida em solidão?

Certa ou errada, amor, fico magoado,
O sentimento ao chão foi derramado,
Pois o amor não combina com a razão.

domingo, 1 de maio de 2011

UMA TRADUÇÃO SIMPLES DE SHAKESPEARE


Morrer, dormir... dormir... talvez sonhar!
É onde bate o ponto. Ora, afinal,
Quem sofreria o açoite a maltratar,
Pedras, setas, a luta contra o mal,

As dilações da lei, dever social,
O mérito paciente e o findar
Do não correspondido verbo amar,
Com a dolorosa dor em ritual?

Ó vida longa, ó mar de provação,
Homem – sombra que passa a caminhar –
Na incerteza do sono casual.

Assim, ser ou não ser, eis a questão,
Morrer, dormir... dormir... jamais sonhar...
Seria a solução de um bom punhal!

sábado, 22 de janeiro de 2011

O VELHO RETRATO


Encontro, em velho livro adormecido,
Nosso retrato antigo, descorado.
Pensando, me pergunto estupefato:
Foste o amor grandioso adquirido?

Quem eras tu? Quem era eu de fato?
Eras tolerante; eu, o obstinado,
- Vênus e Marte - vidas lado a lado,
E que ao rigor do tempo, revolvido.

Hoje eu não sou eu, nem tu és aquela,
Perdemo-nos no tempo, na procela,
Resta um jarro de flores como ornato.

O homem muda no passar do tempo;
A chuva, o sol, o amor e o contratempo
Transmudam a nossa vida qual retrato.